quinta-feira, 21 de outubro de 2010
Chuteira no lixo
Precisou o Rei do Futebol chegar aos 70 anos para uma gafe bem divertida - que poderia ter tido um desfecho nada agradável -, cometida por um profissional da imprensa, vir à tona. Por algumas horas, uma das grandes joias de Pelé, as chuteiras usadas na noite em que marcou o milésimo gol de sua carreira, no Maracanã, em partida contra o Vasco, pararam, por engano... na lixeira de um tradicional jornal carioca. Foram confundidas com as de um peladeiro qualquer da editoria de fotografia do Jornal do Brasil. E, não fosse a ação rápida do próprio autor da "façanha", teriam virado sucata.
O "salvador da pátria", que por pouco não virou o vilão da história, foi Jorge Odilar, 45 anos, hoje coordenador da fotografia do "Jornal do Brasil". Na época, ele chefiava o laboratório. Botava ordem na casa. Gostava de tudo organizado. Em 1990, numa quarta-feira à tarde, dia da semana em que os fotógrafos participavam de pelada tradicional na Lagoa à noite, tudo parecia tranquilo até um par de chuteiras em estado ruim parar na mesa da editoria.
- Quando eu cheguei, estavam lá, largadas na mesa. Os fotógrafos tinham mania de deixar tudo espalhado no dia em que jogavam a pelada. Largavam bolsa, uniforme, tudo... Eu cansava de pedir para não fazerem aquilo. Aí, naquele dia, não aguentei: aquelas chuteiras estavam bem velhas, sujas, contorcidas. Como ninguém apareceu para pegá-las, joguei na lixeira.
O tempo passou até que entrou na sala o editor de fotografia, Rogério Reis.
- Jorge, você viu por aí aquelas chuteiras que estavam na mesa?
- Não, vi não. Por quê? - disse o chefe do laboratório, já prevendo o pior.
Pô, essa não. São as chuteiras que o Pelé usou quando marcou o milésimo gol. Vamos produzir umas fotos no estúdio para uma matéria na revista Domingo. Precisamos achá-las.
A resposta do editor teve o efeito de uma bomba atômica para Odilar, que gelou mais ainda ao olhar para a lixeira onde jogou as chuteiras e não encontrá-las. E antes que o pavor de não resolver a questão o imobilizasse, tratou de agir rapidamente. A sede do jornal, na época, era em um gigantesco prédio da Avenida Brasil, na zona portuária do Rio.
- Desci e fui para o pátio do lixo. Tinha que ver na caçamba. As pessoas que passavam me viam mexendo e gritavam "O que que tá fazendo aí, maluco?". Eu continuava procurando...
Mas a chuteira não apareceu. Apavorado, o chefe do laboratório subiu já prevendo o pior: a demissão. Mas teve uma última ideia. Lembrou que no fundo do laboratório, onde se encontravam os produtos químicos para revelação, costumavam ficar uns sacos de lixo amarrados, antes de irem para a caçamba. Odilar entrou rapidamente, desamarrou-os e começou a busca incessante. A desculpa, para o pessoal todo, é que procurava um filme que havia desparecido. O final foi feliz.
- Ali, finalmente, encontrei as chuteiras, mas não disse nada para ninguém. Dei uma limpada e botei debaixo da mesa do Rogério. Mais tarde, me perguntou se eu tinha encontrado. Aí eu falei pra dar uma olhada na sala dele que o fotógrafo poderia ter colocado por lá num lugar que não tivesse procurado. Ele foi, encontrou e ficou tudo resolvido. Mas só agora vai ficar sabendo da verdadeira história - disse, às gargalhadas, pelo telefone.
Globo Esporte
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